Um breve relato sobre o jornalismo, um caso de amor & ódio
Meu nome é Edmundo, jornalista, atuante no ofício há quase 10 anos.
Meu amor e dedicação ao jornalismo, que considero muito mais que um mero trabalho de disseminação de informação, sim, uma prestação de serviços a sociedade por meio de técnicas de apuração, checagem e valor notícia, que podem impactar a vida social de nossa população.
Trabalhei em alguns veículos de mídia gigantes que foram a Folha de S. Paulo e Broadcast Político do Estadão (Trainee), com gente muito boa, clima bom e muitas oportunidades. Porém, só consegui essas oportunidades porque participei de projetos disruptivos patrocinados pelo Google News Initiative, Agence France Press, IJnet, Abraji, Agência Publica, na época.
Também atuei em gigantes internacionais como a Latin Americam Quality Institute — Laqi Panamá, e atualmente como jornalista freelancer no International Center For Journalists — ICFJ.
Hoje, com a precarização e vilipêndio que a profissão que escolhi exercer em minha vida vem sofrendo, o mercado de trabalho está completamente saturado e muito complicado para novos e experientes profissionais.
No Brasil, a presença de jornalistas negros e pardos é bastante reduzida. Basta entrar em uma redação para perceber isso, com exceção de alguns poucos veículos. Durante a faculdade, na época, já notava que a nossa cor pode dificultar a obtenção de estágios e outros espaços.
Não contava com sobrenomes ou ascendência europeia, nem com familiares com tradição no jornalismo. Comecei a corrida com desvantagem, mesmo que pareça que todos estão no mesmo ponto de partida. Precisei me esforçar muito, muito mesmo.
No jornalismo enfrentamos inúmeros desafios, desde do etarismo ao racismo estrutural, este que é possível notar em qualquer redação ou assessoria de imprensa, como citei acima, pois o número de profissionais negros é muito baixo. Sempre nutri o sonho de motivar outros jovens jornalistas negros, mostrando ser possível alcançar o sucesso.
No entanto, também enfatizo que não deveria ser tão difícil para chegarmos a um nível de excelência. Senti que temos a necessidade de trabalhar muito mais para alcançar as mesmas posições, e se não fosse por esse esforço extra, estaria em destaque se fosse branco. Mesmo carregando este fardo pesado e exaustivo, sou exemplo de transformação para muitos jovens que tenho contato.
Estes jovens a quem me refiro não querem apenas ser bons, buscam ser os melhores, superando as dificuldades. Julgo também que nunca devemos esquecer aqueles que nos apoiaram, que nos enxergaram além da nossa aparência ou origem. Pessoas que viram em nós uma determinação imensa, uma vontade de inovar. Elas nos apoiaram, nos deram oportunidades e contribuíram para o nosso crescimento, obrigado & gratidão a todos vocês.
Fora estes problemas citados estão outros ainda mais complexos como: baixo salário, acumulo de funções que não são inerentes a função, carga exaustiva de trabalho, passaralhos e por aí segue.
Venho lutando bravamente contra estes percalços impostos a nós, jornalistas, confesso que tem dias que penso em abandonar a profissão que amo, porém, como teimoso que sou, isso dura apenas algumas horas e depois volto a amar esse ofício ingrato que tanto amo.
Enfim, sigo na luta, por dias melhores, não somente para este que vos escreve, sim, para todos os profissionais de imprensa. Desejo que a Gupy acabe, que o preconceito e etarismo também tenha seu fim, que possamos atuar e prestar o serviço que o escopo de nossa profissão exige, que nossos salários sejam justos e empregadores mais coerentes e profissionais.
Concluindo, na hora do vamos ver, somos nós que nos destacamos. Somos nós que inspiramos, somos nós que as pessoas que desejam fazer mudanças precisam. Não somos apenas o futuro, somos o presente. Estamos aqui para brilhar. E não nos segure, porque viemos para ficar e para contribuir para a melhoria do jornalismo.
Os cães ladram, mas a nossa caravana nunca vai parar — Tamo aí a atividade!